segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Eu estive lá.

Roberto Perche de Menezes

Estive lá quando os tempos tiveram início e nada era como é agora.
A luz era embaçada e difusa.
Não se A via concentrada em parte alguma.
Estive lá onde tudo começou. E acompanhei sua evolução.
Vi a luz se dividindo. E subdividindo. E A vi individualizando-se e individualizada.
Eu estava lá e vi quando Ela foi encoberta pelas fogueiras das vaidades. Fogueiras
 fátuas, transitórias, mercuriais.
E A vi presa na matéria insolente que se movia.
Eu estive lá e presenciei a multiplicação da matéria, que se achava superior à sua
Fonte interior.
Eu estava lá quando a matéria definhou, as carnes desprenderam-se dos ossos e
 o pó ao pó retornou, pois dele viera.
Eu vi quando a Luz liberta ressurgiu luminosa, intensa, como nunca me fora dado
Vê-la. E veloz e mansa encaminhou-se para a sua Origem Primordial, pois que
a Luz torna a Quem a deu.
E as matérias, e suas falsas glórias, e suas vaidades vazias, e suas disputas tolas
por poderes passageiros, e seus esforços por belezas efêmeras. . . . . . . foram-se.
De ida sem volta.
Eu estive lá e vi o fim desses tempos materiais.
Eu estava lá, e vi quando a Luz retornou. . . . . . .




SEU PAI: GRANDE MÉDICO!

Era um desses feriados prolongados em que amigos de infância se reencontram na pequena
cidade natal.
O Arquimedes, particularmente, havia tempos que não voltava à little city, como dizíamos. Filho único, temporão de pais idosos, havia ficado 4 anos entre a Inglaterra e a França em especialização em cirurgia cardíaca. Como os pais haviam falecido, voltava pouco à cidadezinha onde seu pai exercera a Medicina por toda a vida.
Fôramos convidados para um churrasco no bairro Aliança, e a curiosidade de sentir e revisitar a terra, literalmente, nos deixou até um pouco ansiosos. A Aliança era um bairro de preponderância japonesa. No protrasmente chamava-se Bairro Aliança Nipo-Brasileira. Com a 2º Guerra Mundial foram obrigados a tirar a palavra Nipo e optaram por Bairro Aliança. Só.
Após alguns quilômetros por estrada de terra bem cuidada chegamos à Aliança. Tudo era re-novidade: o já conhecido, imutado, olhado por novo ângulo.
Fomos recebidos com a habitual cortesia contida nipônica. As crianças formavam círculos de empurra-empurra com as mãozinhas sobre as bocas escondendo sorrisinhos.
Veio nos cumprimentar um senhor já de idade, simpático e com ar esperto. Antes que ele pudesse estender a mão para nos saudar, uma senhora com o olhar baixo aproximou-se por trás dele e disse alguma coisa, rapidamente. O semblante do japonês alterou-se em ar de surpresa. Olhou de forma diferente para o Arquimedes e exclamou, segurando com as duas mãos a mão que Archie estendera:
- Ohh! O senhor filho Dr. Tadeu! Oh! Seu pai grande médico!
E abaixava um pouco a cabeça, numa leve reverência.
Não sei por quê, mas aquelas crianças e jovens atrás dele,com seus sorrisos contidos, aquela
senhora séria e o olhar matreiro daquele senhor, me trouxeram à lembrança aquelas comedias antigas de Hollywood, onde americanos e ingleses, que se achavam o máximo, eram recebidos, em locais longínquos, por nativos espertos que se faziam de desentendidos para caçoar daquele
povo “civilizado”.
Mas deixei pra lá.
O Archie estava, digamos, pouco à vontade com aquilo tudo.
E o japonês repetindo:
- Seu pai grande médico.
E iniciou uma história em que todos passaram a prestar atenção:
- Uma noite, chovia muito, e uma menina do Bairro se entalou com uma moeda de 4oo réis.
Eu nunca vi uma moeda de 400 réis, mas pelo gesto que ele fez com as duas mãos imaginei que a moeda fosse do tamanho de uma lata de Creme Nívea!
E continuou:
- Batemos nas costas dela, colocamos de ponta cabeça. Nada. Aí alguém falou: chama Dr. Tadeu! Chovia muito e Jeep quase atolova. Mas Dr. Tadeu veio. Ohh! Seu pai grande médico. A menininha estava ficando roxa. E mãe chorava. Pingava água pelas goteiras da casa e eu tentava ajudar seu pai iluminando com a lamparina de querosene. Quase queimei o rosto dele! E ele pediu uma colher de sobremesa para tirar a moeda. Difícil. Mas seu pai grande médico.
O Archie literalmente havia entrado na história. Imagino que ocorria-lhe pensamentos do tipo: vivi uma infância despreocupada, estudei na USP e fiz especializações no exterior. Conto hoje com tecnologias impensáveis na época em que meu pai realizava atos de heroísmo, tendo que fazer diagnósticos extraordinários baseados em ausculta e análise da pulsação nas suas mínimas e sutis variações de intensidade e frequência.
E ai a fleuma britânica e a elegância francesa foram pro espaço:
- Tudo bem, meu pai grande médico, mas o quê ele fez? Como fez?
E a paciência oriental parecia saborear a débâcle francesa.
- Oh. Seu pai grande médico! Naquela noite retirou 200 reis e deixou troco para o dia seguinte, quando clareasse.
E todos e todas explodiram numa risada bem brasileira.
Já no fim da tarde, após o churrasco e antes de dar partida no carro, brinquei com o Arquimedes:
- Melhor ir embora antes que o carro atole com tanta fruta, verdura e legumes que nos deram.
E o Archie, entre divertido e zangado:
- Eles têm mais é que nos dar coisas mesmo, depois da gozação que fizeram comigo com essa
 história da moeda.
Olhei sério para ele:
- Mas você não entendeu?!
- Entendeu o quê?
- Aquela senhora séria, que nos trouxe agora os ovos e as abobrinhas?
- O que tem ela?
- É a menina que seu pai salvou!
E se fez silêncio na cabine da camionete .
O interessante é que, até hoje, o Arquimedes nunca me perguntou como é que eu sabia que
aquela senhora era a menina que seu pai desentalara.
E eu nem sabia. E nem sei.
Mas.......duvidar, quem há de.

 Roberto Perche de Menezes

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

"Nós nos trnasformamos naquilo que praticamos com frequência. A perfeição, portanto, não é um ato isolado. É um hábito."
(Aristóteles)

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