quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Big Mac- O lanche mais famoso da história contém dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, teoria da conspiração, Henry Ford, guerra cambial, cebola e picles. No pão com gergelim.
Paulo Darcie

Fórmula secreta -  O que vai no molho especial do Big Mac é segredo. Mas cozinheiros pelo mundo arriscam decifrar e imitar a receita. Se algum já acertou, é difícil saber, mas a variedade de ingredientes usados nas tentativas é grande: açúcar, sal, vinagre (tanto de vinho como de maça), endro (tempero de origem egípcia), pepino, cebola, pimentão (verde e vermelho), leite, manteiga, farinha de trigo, maionese...
Lenda urbana - Junto com um Big Mac, você leva uma lenda urbana de 3 décadas: a de que os hambúrgueres levam carne de minhoca "para dar liga".Não faz sentido, até porque a carne de minhoca é 5 vezes mais cara. E a de boi já "dá liga" sozinha. Para combater o mito, o McDonald's começou a imprimir nas caixas que os lanches são 100% carne bovina. Mas a lenda vai continuar por um motivo simples: todo mundo gosta de uma conspiração.
Problemas com a justiça - O  Big Mac não é uma bomba calórica - são só 504 Kcal. Mas quase ninguém pede só o lanche...Aí complica. Tanto que o McDonald's já foi processado por inúmeros clientes por tê-los engordado. No Brasil, inclusive. A justiça gaúcha condenou a rede a pagar R$30 mil a um ex-gerente do McDonald's, que disse ter sido levado a se alimentar mal e engordado 30 quilos.
Henry Ford - Os irmãos Richard e Maurice McDonald revolucionaram a maneira de fazer comida ao adotar a produção em série. O preparo da comida seguia o modelo que Henry Ford tinha criado para  montar carros: dividir as etapas de produção. Um funcionário só fritava hambúrgueres; outro só aplicava os condimentos...Além de acelerar a produção, isso permitiu pagar salários menores (e baratear os lanches), já que é simples treinar empregados para essas funções.
Análise econômica - Nos EUA ele custa US$ 3,71. No Brasil, sai pelo equivalente a US$ 5,26. Na China, US$ 2,18. Mas espera aí: todos são feitos com os mesmos ingredientes. Em tese, deveriam sair pelo mesmo preço. A diferença, então, indica se uma moeda está subvalorizada (boa para quem exporta) ou supervalorizada (boa para importar e ruim para a economia interna). É o Big Mac Index (da revista The Economist), um bom termômetro para o câmbio internacional.
(Super Interessante- Edição 285. dez/2010)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010


LEIA ANTES DE ASSAR

Fazer bolo parece fácil, mas confeitaria é ciência exata. Cada ingrediente tem sua função e o momento certo para entrar em cena. Do contrário, o bolo sai murcho, solado, queimado. O Paladar reuniu 50 perguntas recorrentes e respondeu com a ajuda da professora de confeitaria Samara Trevisan, do Senac SP, e da escritora Heloísa Bacellar. Se depois de ler você ainda tiver dúvidas, contate Serviço de Atendimento ao Fazedor de Bolo no blog do Paladar (blogs.estadao.com.br/paladar).
                                                                                                                       (O Estado de São Paulo - Paladar)

1. Qual é o primeiro passo para fazer um bolo?

Conferir atentamente se tem todos os ingredientes e utensílios necessários à mão.

2. Muitas receitas pedem ovos e manteiga em temperatura ambiente. Por quê?

Em temperatura ambiente as claras crescem mais firmes e estruturadas e a manteiga adquire textura cremosa, o que facilita sua incorporação aos outros ingredientes e deixa a massa aveludada. Deve-se tirar os ovos e a manteiga da geladeira 30 minutos antes.
 
3. Posso aumentar ou diminuir a quantdade de ingredientes de uma receita?

Não é recomendado, pois a confeitaria – ainda que você vá fazer uma receita básica de bolo – é ciência exata. Por isso, é importante respeitar as proporções indicadas e usar uma balança bem calibrada para pesar os ingredientes secos e um copo-medidor confiável para os líquidos (também pode servir para medir os secos).
 
4. Para fazer bolo é necessário ter batedeira?

Não é preciso ter batedeira. Mas é recomendado ter um bom batedor de arame e seguir a técnica indicada em cada receita.

5. Como saber qual técnica usar?

A própria receita indica. As duas técnicas básicas para o preparo de bolo são a espumosa e a cremosa. A principal diferença entre elas está na presença de uma fonte de gordura e no modo de preparo.

6. Como é a massa espumosa?

A massa espumosa leva ovos, açúcar e farinha de trigo em sua composição. Você já provou pão de ló? Ele é o melhor exemplo desse tipo de massa, cuja umidade vem dos ovos, constituídos de 75% de água. O pão de ló também pode ter um acréscimo de gordura (manteiga, óleo), líquido (leite, suco de laranja ou água) e fermento. Mas esses ingredientes são opcionais e só devem ser usados se a receita pedir.

7. Como a massa espumosa é feita?

Primeiro batem-se as claras em neve, depois acrescentam-se as gemas. Quando a mistura estiver aerada, adiciona-se o açúcar.

8. Há outro modo de fazer a massa espumosa?

Existe. Também é possível bater os ovos inteiros com o açúcar, mas aerando só as claras é mais fácil e rápido de conseguir uma espuma firme. Feita a espuma, adicionam-se açúcar e farinha de trigo.
 
9. Por que o fermento é opcional na receita de pão de ló?

A rigor, esse método não exige fermento para resultar num bolo leve e fofo. Só com ovos, açúcar e farinha de trigo é possível conseguir uma massa leve. Mas depende da receita.
 
10. O que dá leveza a um bolo que não leve fermento?
A leveza é conferida pela clara. Sua proteína, quando batida, infla e absorve o ar. O ar preso nas moléculas da proteína da clara é que ajuda a criar a estrutura leve do bolo. No forno, em contato com o calor e com a farinha de trigo, esse ar se expande, criando pequenas tramas e buracos na massa do bolo.

11. Qual é a melhor maneira de bater claras em neve sem batedeira?

Tome cuidado para não deixar cair gema. Depois use batedor de arame e faça movimentos de baixo para cima, até que se formem picos nevados.

12. Bater claras em neve, mesmo que a receita não recomende o procedimento, melhora a textura do bolo?

Sim, deve-se bater as claras e adicioná-las por último, misturando cuidadosamente.

13. Quais as características da massa de bolo cremosa?

Ela leve ovos, açúcar, farinha de trigo, líquido em grande quantidade (geralmente metade do peso da farinha e dos ovos). Também leva uma gordura (manteiga, óleo, azeite) na proporção de 50% a 100% do peso dos ovos.

14. Uma receita que siga o método cremoso também prescinde de fermento?

Não. Receitas cremosas levam uma fonte de gordura e nesse caso o fermento é obrigatório para dar leveza à massa e evitar que ela fique pesada. O fermento também vai ajudar no processo de cocção, deixando o bolo com formato uniforme

15. Como é a técnica cremosa?

Primeiro é preciso bater as gemas com o açúcar e a gordura (manteiga ou óleo). Nesse processo, a gordura se mistura com a gema para se tornar uma emulsão. Apenas depois que esse creme estiver homogêneo deve-se adicionar o líquido e a farinha de trigo. Por último, entram o fermento e as claras em neve.

16. A ordem dos ingredientes realmente interfere no resultado?

Sim. Um bolo é o resultado de uma série de reações químicas que precisam de ordem para funcionar bem.

17. Por que não se deve misturar demais a massa?
No caso dos bolos de técnica espumosa, misturar muito a massa faz com que as claras  percam a aeração e, com isso, a capacidade de crescer. Resultado: o bolo fica baixo e murcho. Já para os bolos cremosos, mexer demais a massa ajuda a desenvolver mais glúten do que o necessário, o que a deixará com textura elástica. A massa também vai encolher no forno.

18. Por que é importante incorporar a farinha de trigo com cuidado?
Misturar com muita força faz as bolhas de ar encapsuladas nas claras em neve romperem, impedindo o bolo de crescer adequadamente.

19. O que é o bolo abatumado e por que isso acontece?

É aquele bolo que não cresceu e ficou massudo. Isso pode acontecer por várias razões: forno desregulado ou muito frio, bolo retirado do forno antes do tempo. No último caso, a massa absorve umidade, amolece a abaixa.
 
20. Como saber se o bolo está pronto?

Pressione e movimente o centro do bolo com um dedo. Se a massa fizer um movimento de “vai e volta”, a farinha de trigo cozinhou. Depois é só furar com um palito, que fica limpinho quando o bolo está assado. Se a massa grudar, o bolo ainda não está pronto.
 
21. Onde espetar o palito?

Faça o teste do palito de madeira no centro do bolo, pois a massa do bolo assa mais rapidamente nas bordas.

22. Qual é o melhor momento para espetar o palito?

Depois de 25 ou 30 minutos de forno, quando o bolo estiver começando a ficar com a crosta dourada. Furar a casquinha que se forma quando a massa está crescendo faz com que todo o ar preso na massa saia e o bolo abaixe.

23. O tamanho do bolo altera o tempo de permanência no forno?

Sim. A mesma receita terá tempo diferente de forno se for assada em fôrmas de tamanhos diferentes. Fôrmas menores levarão menos tempo- e vice-versa.

24. Por que se deve peneirar a farinha trigo?

É bom peneirar porque a farinha armazenada absorve umidade e acaba formando pelotas, o que tira a homogeneidade da massa.

25. Qual a diferença entre o fermento em pó e o bicarbonato de sódio?

Fermento em pó é mistura de bicarbonato de sódio e cremor de tártaro, ou seja, uma ligação química entre uma base e um ácido. Em uma mistura com líquido, a base e o ácido se ligam para criar bolhas minúsculas de dióxido de carbono. São essas bolhas que fazem a massa crescer. O bicarbonato de sódio é só uma base. Ele também libera dióxido de carbono, mas não ajuda no crescimento como o fermento.

26. Por que algumas receitas pedem só bicarbonato de sódio?

Repare que, normalmente, essas receitas têm um ácido (leite, iogurte, suco de limão) que vai reagir com a base (o bicarbonato) e, nesse caso, o bolo não vai crescer muito, mas vai ficar leve.

27. Por que algumas receitas pedem fermento em pó e bicarbonato de sódio?

Apesar de algumas excelentes receitas pedirem os dois juntos, quimicamente não faz sentido.

28. Por que mesmo com fermento o bolo às vezes não cresce?

Isso pode acontecer por várias razões: forno frio, fermento adicionado muito tempo antes de a massa ir ao forno ou fermento que perdeu a sua capacidade de ação. Independentemente da data de validade, após aberto o  fermento dura, no máximo, três meses. Depois começa a encaroçar e perder a eficiência.

29. Como saber se o fermento está ativo?

Ponha uma colher de fermento em pó em um copo de água. Se a mistura não borbular bastante, o fermento perdeu a força.

30. Para que serve o cremor de tártaro?

Ele é um ácido com várias aplicações: ajuda a prevenir a oxidação das frutas, deixa o caramelo mais crocante e, no bolo, costuma ser usado com o bicarbonato de sódio. O cremor de tártaro também faz parte da composição de fermento em pó.

31. Por que é necessário colocar o bolo no forno assim que o fermento é adicionado?

Porque assim que é adicionado, o fermento começa a reagir e a criar bolhas. Se a massa não for colocada logo no forno, o fermento passa a perder seu poder de ação, o que vai comprometer o crescimento correto do bolo.

32. Qual a função do sal em uma receita de bolo?

O sal ajuda a aerar a clara mais rapidamente, mas é preciso ter cuidado, porque ele provoca desidratação, resultando em uma clara mais quebradiça, que perde a textura nevada com facilidade.

33. O sal não ajuda a realçar o sabor do bolo?

Uma pitada de sal realça o sabor, mas deve-se acrescentá-lo com a farinha de trigo, não diretamente nas claras em neve.

34. A farinha de trigo que já vem com fermento é mais indicada?

Não. Ela não é indicada por uma razão clara: o fermento deve ser sempre um dos últimos elementos a serem acrescentados à massa. A farinha com fermento costuma acelerar o processo de crescimento do bolo fora do forno.

35. Por que é preciso preaquecer o forno?

Para ativar o fermento e manter a aeração da massa. A farinha precisa do calor para reagir com os outros ingredientes e aprisionar o ar, dando leveza à massa.

36. Por quanto tempo o forno deve ser preaquecido?

Como a potência do forno varia muito de um fogão para outro, não há consenso. Se o forno for potente, 5 a 10 minutos bastam. O forno precisa estar quente.

37. Qual a temperatura ideal para assar o bolo?

O forno precisa estar quente para começar, mas a cocção de bolos normalmente é fetia em forno médio.

38. Em qual grelha do forno é melhor assar o bolo?

Na grelha do meio, porque no centro do forno a distribuição de calor é mais uniforme.

39. E a fôrma onde  deve ficar?

A fôrma do bolo também precisa ficar no centro do forno para que o calor seja distribuído uniformemente, evitando que alguma das laterais asse mais do que a outra.

40. Pode-se usar uma fôrma de formato diferente da indicada na receita?

Sim, desde que ela não seja muito maior ou muito menor que a quantidade de massa. O ideal é que a massa do bolo ocupe 2/3 do tamanho da fôrma.

41. Qual a diferença em untar a fôrma com óleo ou manteiga?

A diferença está na temperatura de fusão dos dois ingredientes, o que provoca diferentes reações. A manteiga tem capacidade de deixar a massa dourada, o óleo não. Nos dois casos, entretanto, a temperatura ideal para assar o bolo é de 160ºC, 170ºC.

42. Após untar a fôrma, com manteiga ou óleo, é preciso polvilhar farinha de trigo?

Não é obrigatório, mas a farinha ajuda na hora de desenformar, além de deixar uma crosta dourada.
 
43. Pode polvilhar açúcar?

Bolos de frutas com crosta caramelada pedem fôrma polvilhada com açúcar, mas nem sempre desenformam fácil. Se grudar, a saída é aquecer a fôrma para derreter o açúcar caramelado.

44. Quando usar papel-manteiga?

Use sempre que você não quiser untar a fôrma, mas ele só é indispensável quando a receita recomendar seu uso. A única diferença é que ele impede a caramelização da base e das bordas.

45. O que fazer para frutas secas e pedaços de chocolate não irem parar no fundo da fôrma?

Passar as frutas e o chocolate levemente na farinha de trigo ajuda a deixá-los suspensos na massa. Mas, ainda assim, eles só não tocarão o fundo da fôrma se a massa for espessa e levar uma boa quantidade de gordura. Se você colocar muitas frutas em um bolo de estrutura leve, como o pão de ló, elas vão parar direto no fundo da fôrma.

46. O que faz um bolo 'desmoronar’?

Um bolo desmorona quando é retirado do forno antes de estar totalmente assado. Isso acontece porque as tramas da massa precisam de um tempo certo de cocção até ficarem estabilizadas. Ao ser tirada do forno antes do tempo, a massa entra em contato com o ar frio e a mudança brusca de temperatura faz com que o gás das bolhas de ar diminua. Com isso, a pressão interna é reduzida e o bolo despenca.
 
47. Por que é preciso esperar o bolo esfriar antes de desenformá-lo?

Porque enquanto ele está quente sua estrutura é frágil e quebradiça. O ideal é esperar 15 minutos e deixar a fôrma em uma grade, para que o ar possa circular na base, esfriando por igual.

48. Que fazer para o recheio do bolo não ‘encharcar’ a massa?

Para bolos recheados escolha uma massa menos porosa, como pão de ló. Uma boa dica é polvilhar uma camada de açúcar de confeiteiro antes de colocar o recheio sobre a massa.

49. Por que as camadas do bolo marmorizado não se fundem?

Porque a adição de chocolate em pó deixa a massa escura mais pesada que a branca. Por isso, para conseguir o efeito marmorizado é preciso pôr primeiro a massa branca e, por cima, a de chocolate.

50. Posso usar a mesma receita quando estiver na praia e na montanha?

Na altitude, á água ferve a uma temperatura abaixo dos 100ºC - temperatura de ebulição ao nível do mar. Por isso, a mesma receita testada e aprovada no litroal pode resultar num bolo seco e denso na altitude.

A CULPA NÃO É SUA - O bolo quebrou? Não quis desgrudar da fôrma e virou uma maçaroca? O problema pode não ser você, mas sua fôrma, como foi comprovado no teste ao lado: os bolos que desmoronam foram feitos por uma especialista, a professora Samara Revisan, do Senac. Ela testou cinco assadeiras de materiais deferentes - untadas e enfarinhadas (mesmo as antiaderentes).
ALUMÍNIO ANTIADERENTE - O fundo removível não encaixou direito. A massa grudou na borda e na base. Não desenformou bem.

VIDRO - A massa grudou bastante. O vidro reteve umidade e a cocção foi irregular. O centro ficou pálido.

SILICONE - Assim que saiu do forno deu para notar que seria fácil desenformar. O bolo soltou sem dificuldade.
CERÂMICA - Promoveu cocção irregular. A base ficou pálida. O peso da fôrma dificulta na hora de desenformar.
FERRO ANTIADERENTE - A fôrma de bolo inglês funcionou muito bem. Bastou virá-la para o bolo cair.




































































































































quarta-feira, 20 de outubro de 2010

TEMPOS DE DECISÃO

Na hora de votar convém lembrar que há diferenças entre aquilo em que acreditamos e o que fazemos

Um experimento teórico tem sido utilizado para estudar a lógica da decisão. Imagine que um trem lotado encaminha-se para um precipício, redundando numa queda da qual não restariam sobreviventes. Posicionado em um entroncamento, você pode ativar uma alavanca para desviar o comboio, fazendo-o atingir um pequeno grupo de pessoas. Sua intervenção certamente causaria um número menor de vítimas. Como você agiria?

Pesquisas sobre esse dilema mostram que as pessoas agiriam segundo o princípio do "menor dano". Em mais de 90% dos casos os sujeitos apertariam a barra salvando muitas pessoas, assumindo a responsabilidade pela morte de algumas outras. Porém, dizer nem sempre é fazer. Experimentos nos quais é preciso agir – e não apenas declarar as intenções – apontam outro resultado. A convicção em torno de valores, princípios e regras pode se mostrar incrivelmente frágil diante da experiência real. Situações concretas, por sua vez, são muito sensíveis à contagem dos participantes. Sozinhos na situação do trem, você e sua consciência provavelmente tomariam atitude diferente daquela que teriam se houvesse testemunha. O inconsciente é composto por figuras que o habitam e é sempre em companhia delas que você terá que decidir. A defesa inócua do criminoso comum é alegar que está em paz com sua consciência. Mas nunca estamos em paz com nossa consciência – ela é feita para nos atormentar, para rever continuamente as consequências, causas e razões de nossos atos. Estar "em paz com a consciência" é, no fundo, não ter consciência.

Em seu Projeto de psicologia científica para neurólogos, de 1895, Freud estabeleceu alguns fundamentos para uma lógica da escolha. Em um verdadeiro processo de decisão, temos de comparar situações de tal forma que proposições se formem em nossa consciência. Antes de qualquer escolha há uma espécie de metadecisão envolvendo os caminhos pelos quais a opção pode ser feita. Podemos até estar bem-intencionados, e acreditar que escolha é apenas uma elaboração de pensamento.

Mas temos um júri coletivo que será destinatário de nosso juízo. Perguntamos como agiriam as pessoas que conhecemos, amamos ou respeitamos e reciprocamente como seríamos julgados por elas. É neste ponto que os 90% de coração reto se invertem, com Nietzsche, em 90% de preconceito, suspensão da reflexão e "raciocínio de rebanho". A diferença entre a verdade do que dizemos e o real do que fazemos emana do fato de que agir compromete, custa. Movendo a alavanca nos tornamos responsáveis diretos pela morte de inocentes. Esperando passivamente que o trem caia no precipício, ficamos em paz com nossa consciência, afinal "alguém" deveria ter pensado nisso antes, alguém da companhia de trens ou da vigilância antiprecipícios. Aqui surgem os dois outros elementos da lógica freudiana da decisão: a angústia e o tempo. A verdadeira escolha nunca é tomada sem a incerteza de um tempo de angústia. Há os que deixam a alavanca intacta e contam com a teoria neurótica do tempo indefinidamente elástico no qual alguém tomará ou já tomou a decisão certa por nós. Há aqueles que se lançam heroicamente para a alavanca seguem outra forma de temporalidade neurótica na qual o "alguém" sou eu mesmo livrando-me da angústia de decidir. Em tempos de eleição só podemos nos permitir um tempo diferente para decidir.

(Christian Ingo Lenz Dunker – psicanalista do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo – USO. Mente cérebro – Ano XVIII. nº213. Out.2010)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

FICAR SENTADO TORNA A VIDA MAIS CURTA

Passar 6 horas diárias nessa posição aumenta em 37% o riso de morte - mesmo se você for saudável e praticar exercícios.


 

Sedentarismo faz mal à saúde. Disso todo mundo sabe. O que ninguém imaginava, e um novo estudo acaba de revelar, é que ficar 6 horas diárias sentado pode provocar efeitos permanentes. No caso, elevar o risco de morte: que fica 18%maior para os homens e 37% maior para as mulheres. "Passar muito tempo sentado, independentemente do nível de atividade física [do indivíduo], provoca consequências metabólicas importantes", dizem os autores do estudo, que foi realizado pela Sociedade Americana do Câncer e acompanhou 123 mil homens e mulheres ao longo de 13 anos. O pior é que esse risco aumenta mesmo se a pessoa estiver em forma e praticar exercícios regularmente. Motivos: depois de algumas horas sem caminhar, o organismo interrompe a produção da lipase, enzima que os músculos usam para queimar gordura. Essa gordura fica circulando no corpo, onde eleva os níveis de triglicérides e mau colesterol (LDL), aumentando o risco de doenças cardiovasculares.

Em teste feitos com ratos, a lipase caiu dramaticamente após 4 horas de inatividade - e só voltou ao normal depois de 4 horas de caminhada. Como o metabolismo dos ratos é diferente do humano, esses números não podem ser transpostos diretamente. Mas a conclusão é clara. Não adianta ir à academia de manhã ou à noite e ficar todo o resto do tempo sentado. É importante se mexer durante todo o dia. Boa desculpa para se levantar da mesa e ir bater papo com os colegas no café.

(Bruno Garattoni - Super interessante. Edição 283. out.2010)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Eu estive lá.

Roberto Perche de Menezes

Estive lá quando os tempos tiveram início e nada era como é agora.
A luz era embaçada e difusa.
Não se A via concentrada em parte alguma.
Estive lá onde tudo começou. E acompanhei sua evolução.
Vi a luz se dividindo. E subdividindo. E A vi individualizando-se e individualizada.
Eu estava lá e vi quando Ela foi encoberta pelas fogueiras das vaidades. Fogueiras
 fátuas, transitórias, mercuriais.
E A vi presa na matéria insolente que se movia.
Eu estive lá e presenciei a multiplicação da matéria, que se achava superior à sua
Fonte interior.
Eu estava lá quando a matéria definhou, as carnes desprenderam-se dos ossos e
 o pó ao pó retornou, pois dele viera.
Eu vi quando a Luz liberta ressurgiu luminosa, intensa, como nunca me fora dado
Vê-la. E veloz e mansa encaminhou-se para a sua Origem Primordial, pois que
a Luz torna a Quem a deu.
E as matérias, e suas falsas glórias, e suas vaidades vazias, e suas disputas tolas
por poderes passageiros, e seus esforços por belezas efêmeras. . . . . . . foram-se.
De ida sem volta.
Eu estive lá e vi o fim desses tempos materiais.
Eu estava lá, e vi quando a Luz retornou. . . . . . .




SEU PAI: GRANDE MÉDICO!

Era um desses feriados prolongados em que amigos de infância se reencontram na pequena
cidade natal.
O Arquimedes, particularmente, havia tempos que não voltava à little city, como dizíamos. Filho único, temporão de pais idosos, havia ficado 4 anos entre a Inglaterra e a França em especialização em cirurgia cardíaca. Como os pais haviam falecido, voltava pouco à cidadezinha onde seu pai exercera a Medicina por toda a vida.
Fôramos convidados para um churrasco no bairro Aliança, e a curiosidade de sentir e revisitar a terra, literalmente, nos deixou até um pouco ansiosos. A Aliança era um bairro de preponderância japonesa. No protrasmente chamava-se Bairro Aliança Nipo-Brasileira. Com a 2º Guerra Mundial foram obrigados a tirar a palavra Nipo e optaram por Bairro Aliança. Só.
Após alguns quilômetros por estrada de terra bem cuidada chegamos à Aliança. Tudo era re-novidade: o já conhecido, imutado, olhado por novo ângulo.
Fomos recebidos com a habitual cortesia contida nipônica. As crianças formavam círculos de empurra-empurra com as mãozinhas sobre as bocas escondendo sorrisinhos.
Veio nos cumprimentar um senhor já de idade, simpático e com ar esperto. Antes que ele pudesse estender a mão para nos saudar, uma senhora com o olhar baixo aproximou-se por trás dele e disse alguma coisa, rapidamente. O semblante do japonês alterou-se em ar de surpresa. Olhou de forma diferente para o Arquimedes e exclamou, segurando com as duas mãos a mão que Archie estendera:
- Ohh! O senhor filho Dr. Tadeu! Oh! Seu pai grande médico!
E abaixava um pouco a cabeça, numa leve reverência.
Não sei por quê, mas aquelas crianças e jovens atrás dele,com seus sorrisos contidos, aquela
senhora séria e o olhar matreiro daquele senhor, me trouxeram à lembrança aquelas comedias antigas de Hollywood, onde americanos e ingleses, que se achavam o máximo, eram recebidos, em locais longínquos, por nativos espertos que se faziam de desentendidos para caçoar daquele
povo “civilizado”.
Mas deixei pra lá.
O Archie estava, digamos, pouco à vontade com aquilo tudo.
E o japonês repetindo:
- Seu pai grande médico.
E iniciou uma história em que todos passaram a prestar atenção:
- Uma noite, chovia muito, e uma menina do Bairro se entalou com uma moeda de 4oo réis.
Eu nunca vi uma moeda de 400 réis, mas pelo gesto que ele fez com as duas mãos imaginei que a moeda fosse do tamanho de uma lata de Creme Nívea!
E continuou:
- Batemos nas costas dela, colocamos de ponta cabeça. Nada. Aí alguém falou: chama Dr. Tadeu! Chovia muito e Jeep quase atolova. Mas Dr. Tadeu veio. Ohh! Seu pai grande médico. A menininha estava ficando roxa. E mãe chorava. Pingava água pelas goteiras da casa e eu tentava ajudar seu pai iluminando com a lamparina de querosene. Quase queimei o rosto dele! E ele pediu uma colher de sobremesa para tirar a moeda. Difícil. Mas seu pai grande médico.
O Archie literalmente havia entrado na história. Imagino que ocorria-lhe pensamentos do tipo: vivi uma infância despreocupada, estudei na USP e fiz especializações no exterior. Conto hoje com tecnologias impensáveis na época em que meu pai realizava atos de heroísmo, tendo que fazer diagnósticos extraordinários baseados em ausculta e análise da pulsação nas suas mínimas e sutis variações de intensidade e frequência.
E ai a fleuma britânica e a elegância francesa foram pro espaço:
- Tudo bem, meu pai grande médico, mas o quê ele fez? Como fez?
E a paciência oriental parecia saborear a débâcle francesa.
- Oh. Seu pai grande médico! Naquela noite retirou 200 reis e deixou troco para o dia seguinte, quando clareasse.
E todos e todas explodiram numa risada bem brasileira.
Já no fim da tarde, após o churrasco e antes de dar partida no carro, brinquei com o Arquimedes:
- Melhor ir embora antes que o carro atole com tanta fruta, verdura e legumes que nos deram.
E o Archie, entre divertido e zangado:
- Eles têm mais é que nos dar coisas mesmo, depois da gozação que fizeram comigo com essa
 história da moeda.
Olhei sério para ele:
- Mas você não entendeu?!
- Entendeu o quê?
- Aquela senhora séria, que nos trouxe agora os ovos e as abobrinhas?
- O que tem ela?
- É a menina que seu pai salvou!
E se fez silêncio na cabine da camionete .
O interessante é que, até hoje, o Arquimedes nunca me perguntou como é que eu sabia que
aquela senhora era a menina que seu pai desentalara.
E eu nem sabia. E nem sei.
Mas.......duvidar, quem há de.

 Roberto Perche de Menezes

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

"Nós nos trnasformamos naquilo que praticamos com frequência. A perfeição, portanto, não é um ato isolado. É um hábito."
(Aristóteles)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010


10 ERROS DE PORTUGUÊS QUE ACABAM COM QUALQUER ENTREVISTA DE EMPREGO
Deixei meu emprego porque houveram algumas dificuldades na empresa em que eu trabalhava
HOUVE dificuldades. Haver, no sentido de existir, é impessoal e não admite flexão. Nunca, em hipótese alguma.
Ela estava meia ameaçada de falência
MEIO ameaçada. Os advérbios são invariáveis. Não têm, portanto, concordância de gênero.
Inclusive o chefe reteu meu último pagamento.
O chefe RETEVE: "reter" deve seguir a conjugação do verbo do qual é derivado, "ter".
Aliás, estudei na mesma faculdade aonde o senhor deu aula.
ONDE o senhor deu aula: aonde (a+ onde) só cabe depois de verbos que indicam movimento. Por exemplo, "fui aonde o senhor me mandou'".
Segue anexo aqui, com meu currículo, dois trabalhos que fiz.
Seguem anexos, porque são dois trabalhos: cuidado com a concordância verbal (seguem dois) e também com a concordância nominal (trabalhos anexos)
Agora, já fazem cinco anos que trabalho nesta área.
Faz cinco anos: quando o verbo "fazer" indica tempo, ele é sempre impessoal – faz um ano, e faz cem anos.
Mas não terminei o curso por causa que decidi seguir outra carreira.
Porque decidi: "por causa que" é mais do que errado – nem sequer existe.
Espero que eu seje aprovado. Preciso de trabalhar.
Dois erros inadmissíveis de uma vez só. O primeiro é a conjugação "seje", que não existe no português. Espero que eu seja aprovado é o correto. O outro erro grave é de regência. "Precisar" é um daqueles verbos cheios de truques: conforme o significado, requer ou dispensa preposição. No sentido de ter necessidade e seguido de verbo no infinitivo, ele não aceita preposição: preciso trabalhar.
Tenho certeza de que , se eu dispor de uma boa equipe poderei trazer mais cliente para a companhia.
Se eu dispuser é o correto. Como no item 3, os verbos derivados de "ter", "vir" e "pôr" não podem ser conjugados de forma regular. Por exemplo: se ele vier, jantaremos. E, se eu intervier, essa briga vai acabar.
Qualquer coisa que passem para mim fazer, eu entrego no prazo.
Para eu fazer: antes de verbo, nunca se usa pronome oblíquo. Só o pessoal é permitido.
(Veja. Ano 43. Nº32. 11 de agosto de 2010)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A ARTE DE CAMINHAR

Desde a antiguidade movimentar o corpo ajuda as pessoas a pensar, tomar decisões e expressar indignação; na literatura artistas e apaixonados são andarilhos

A consciência da necessidade de praticar exercícios físicos é recente. "No começo, era o pé", diz o antropólogo Marvin Harris. O pé, não a mão. A mão nos fez humanos – mas antes de sermos humanos somos parte do reino animal, e o nosso corpo precisa atender às necessidades que os animais enfrentam, entre elas a do deslocamento. O ser humano evoluiu, tronou-se bípede, mas continuou caminhando. E passou a usar a caminhada para outros fins que não o de chegar a um lugar específico: o de buscar determinada coisa. Praticar exercícios físicos é algo relativamente recente, mesmo porque, no passado, o sedentarismo era a exceção antes que a regra; caçadores, agricultores, trabalhadores em geral jamais pensariam nisso. Mas muito cedo o ato de caminhar adquiriu um significado psicológico, simbólico. O protesto político muitas vezes se fez, e ainda se faz, sob a forma de marchas, de caminhadas; foi o caso da Marcha dos 100 Mil (1968), um dos primeiros protestos organizados no Brasil. Os filósofos gregos muitas vezes ensinavam a seus discípulos caminhando. "Levanta-se, toma teu leito e anda", diz o Evangelho (João, 5:8), ou seja, vá em busca de seu destino, de seus objetivos. E Santo Agostinho cunhou uma expressão famosa: Solvitur ambulando, caminhar resolve (os problemas, as dúvidas). Por quê?

No livro Wanderlust: a history of walking (A ânsia de vagar: uma história da caminhada), de 2000, Rebecca Solnit diz que andar permite "conhecer o mundo através do corpo", ou, nas palavras do poeta modernista Wallace Stevens (1879-1955): "Eu sou o mundo no qual caminho". Trata-se, pois, de uma experiência cognitiva, muito necessária nesses tempos em que as pessoas se deslocam, sobretudo utilizando carros, trens, aviões. Mas caminhar também envolve um processo de autoconhecimento, quando não de inspiração. "Os grandes pensamentos resultam da caminhada", diz o filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), uma ideia que Raymond Inmon expressa de forma mais poética: "Os anjos sussurram para aqueles que caminham". O escritor francês Anatole France (1844-1924) faz uma comparação interessante: "É bom colecionar coisas, diz ele, mas é melhor caminhar". Porque caminhar também é uma forma de colecionar coisas: as coisas que a gente vê, as coisas que a gente pensa". Esse processo é facilitado pela renovação da paisagem, seja ela rural ou urbana, e pelo próprio automatismo do ato de caminhar. Não é de admirar, portanto, que muitos escritores tenham abordado o tema da caminhada. Foi o caso do filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), figura marcante do Iluminismo francês e precursor do romantismo – os românticos, sobretudo os alemães, eram grandes andarilhos. Em suas Confissões, disse Rousseau: "Só consigo meditar quando caminho. "Minha mente só trabalha junto com minhas pernas". À obra (publicada postumamente) que resume muito de sua biografia e de sua filosofia, Rousseau deu o título de Os devaneios do caminhante solitário (Les rêveries du promeneur solitaire). Os dez capítulos são denominados promenades (caminhadas).

Finalmente, temos um termo analisado tanto pelo poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867) como pelo escritor alemão Walter Benjamin (1892-1940). Trata-se de flâneur, que vem do verbo flâner, vagar (em português temos o galicismo flanar). O flâneur, do qual Benjamin era um exemplo, vagava por Paris, observando o que se passava a seu redor, num claro desafio à moral burguesa então vigente, que via isso como vagabundagem. Uma vagabundagem da qual resultaram, contudo, textos admiráveis. Caminhar, como diz o escritor americano contemporâneo Gary Snyder, é a grande aventura.

(Moacyr Scliar)

"Os homens vivem de esquecimentos,

As mulheres de memórias."

(T.S.Eliot, poeta americano)

BOTOX DIMINUI ENXAQUECA

Cientistas do Hospital Universitário de Essen, na Alemanha, descobriram um novo campo de aplicação para a toxina botulínica. Segundo eles, o botox, como é conhecida a substância utilizada em cirurgias plásticas, reduz a quantidade de ataques de dores de cabeça em pessoas que sofrem de enxaqueca crônica. Em um estudo realizado com 1.400 pacientes que sofriam com o problema, o preparado foi invejado na nuca e nos músculos faciais. O neurologista Hans-Christoph Diener, responsável pelo estudo, comparou o efeito da toxina com o de um preparado inócuo aplicado no grupo-controle. Os resultados mostram que o placebo reduziu a quantidade de ataques de enxaqueca no decorrer do tratamento de quatro semanas – apenas a crença em uma possível cura, portanto, já atenuou as dores dos pacientes. No entanto, o botox teve um efeito claramente melhor. No decorrer de seis meses, os pacientes ficaram nove dias a mais, por mês, sem dores.

Há algum tempo, o botox vem se destacando como importante aliado no tratamento de outras doenças, como na diminuição de espasmos e posturas incorretas em determinados distúrbios de movimento. Mais testes estão sendo realizados para demonstrar o quão eficaz a substância pode ser no tratamento de enxaqueca.

(Mente e cérebro. Ano XVII. Nº209)

sábado, 7 de agosto de 2010

EDUCAÇÃO SENTIMENTAL

Maria Rita Kehl

"Eu era feliz? Não sei. Fui-o outrora, agora." (Fernando Pessoa)

Se o sonho realiza desejos, o que leva alguém a sonhar com períodos difíceis do passado? Na Interpretação dos Sonhos, Freud formula a pergunta apenas para apresentar sua conclusão: "Naqueles tempos duros eu possuía algo melhor que tudo: a juventude." Paradoxal, o desejo de juventude. Só a desejamos depois de perdê-la para sempre.

"Tenho saudade do corpo jovem", diz Caetano, no presente, ao entrevistador do documentário Uma Noite em 1967 que lhe pergunta se tem saudades da época dos Festivais da MPB. "Só sinto falta daquela alegria que vinha do corpo." Caetano é o único que confessa nostalgia. Os outros compositores, entrevistados no filme que estreou em São Paulo na semana passada, não falam com saudades dos festivais da TV Record. "Eu estava apavorado naquela final", revela Gilberto Gil. "Não sei como as câmeras captaram a imagem daquele fantasma que eu era no palco." Chico Buarque, aos 23 anos, sentia-se velho diante dos baianos por conta do smoking careta que tinha alugado para usar no palco. E Edu Lobo, o vencedor da noite, traz lembranças de uma fase angustiada: "Naquele tempo eu vivia preocupado. Não sabia se ia dar certo na carreira de compositor." A tenra idade pesa.

O filme de Ricardo Calil e Renato Terra tem sido bem recebido por quem tem hoje mais de 50 anos. Desperta saudades. E assombro: de onde surgiu aquela espantosa geração de meninos compositores? Como explicar a concentração de poetas e músicos talentosos revelados nos quatro grandes festivais, desde a Excelsior de 1965 até o primeiro da Globo, em 1968? Eles fizeram, mais que qualquer escritor, a educação sentimental da minha geração.

Pena que Uma Noite em 1967 seja um documentário tão preguiçoso. Tendo em mãos o precioso arquivo da última noite do festival daquele ano, os diretores concentraram-se em intercalar as cenas gravadas ao vivo no Teatro Paramount em São Paulo com as entrevistas atuais concedidas por músicos, organizadores e jornalistas presentes na premiação. Faltam informações sobre o evento, como, por exemplo, o nome dos outros finalistas e das outras canções concorrentes. Entre 12 selecionados, o filme concentra-se nos 5 vencedores, mais a cena completa do massacre público de Sérgio Ricardo, politicamente incorretíssimo para os padrões atuais. Não há nenhuma pesquisa sobre os festivais anteriores, sobre o Brasil da época, sobre de onde vieram os vencedores de 67. De que fontes brotaram as águas que explodiram em tamanha fervura?

Mas as imagens da época têm o mérito de revelar como estamos distantes da década de 1960. Tudo era um pouco mais pobre, mais chinfrim, muito mais improvisado e também mais vivo e espontâneo do que o que veio a seguir. A plateia que lotava o teatro além dos limites de segurança era indomável. Os aplausos e principalmente as vaias eram captados por um microfone pendurado pelo fio sobre as cabeças do público. A qualidade do som era sofrível; as canções, os arranjos e a interpretação, empolgantes. Nunca mais a televisão brasileira exibiu uma mistura tão bem-sucedida e tão inesperada de genialidade, diante da qual o espectador contemporâneo nem liga para a precariedade da técnica.

E como os corpos eram diferentes! Todos magérrimos sem nunca ter passado por uma academia. Ombros estreitos, braços finos. Magreza da idade. Quem se importava com isso? A plateia parecia estar ali para fazer política onde ainda não era proibido. Tudo era pretexto para se marcar posição. Tratava-se de apoiar com fervor a melhor " música de festival".

A vencedora Ponteio, de Edu Lobo e Capinam, trouxe a combinação perfeita para empolgar o público. "Era um, era dois, era cem": diante da multidão o violeiro deve dizer logo o que tem pra contar. Chegou seu momento. O tom desafiador, a alegoria sobre "a morte ao redor, mundo inteiro", o desejo de "ver o tempo mudado" – e mais a viola como objeto perdido, evocado pelo "quem me dera agora" do refrão: tudo fazia de Ponteio o meio ideal para promover um gozo estético e político, dentro dos limites tolerados pelo regime e pela direção da TV Record. A vitória de Ponteio parecia a realização do "dia que virá" aqui e agora, transmitida ao vivo pela tevê.

A revelação mais importante do documentário é que, na verdade, nada era tão espontâneo quanto parecia. Assim como a passeata nacionalista contra o uso da guitarra na MPB foi organizada pela própria emissora como estratégia de marketing para promover o festival, o diretor Paulo Machado de Carvalho Filho revela em entrevista que também as vaias e a radicalização da torcida nas finais foram planejados para fazer da disputa um grande acontecimento. Era uma estratégia selvagem de marketing. Nós éramos os figurantes vestidos de leões na arena romana armada pela direção artística da emissora – verdadeiros inocentes úteis da incipiente indústria do espetáculo no Brasil.

Então, a partir de 1968 a TV se profissionalizou e a Globo acabou com a farra. Como se prenunciasse o AI-5, que calou e exilou os melhores artistas, a emissora que viria a se tornar a queridinha dos militares engessou o formato, nos solenes e tediosos Festivais Internacionais da Canção. Que mesmo assim nos deram a belíssima Sabiá. Mas desconfio que Chico e Tom não precisavam do pretexto de nenhum festival para compor a mais bela canção do exílio que o País já mereceu.

O Estado de São Paulo. 17 de agosto de 2010. C2-música

domingo, 1 de agosto de 2010

NOVO LÉXICO - A tecnologia mudou muito o vocabulário – revise o bê-a-bá


A

ABA - Quando, em uma mesma janela do navegador, você abra diversos sites, cada um deles ocupa uma aba.

ANDROID - Sistema operacional do Google para smartphones – como o Windows, só que feito para celulares.

API - É o código que permite que funções de um site possam ser utilizadas por outros aplicativos. Assim você publica no seu blog e o post aparece no Twitter.

APLICATIVO - É o mesmo que programa; executa tarefas de acordo com sua função

B

BAIXAR-   É o verbo em português para o termo download: transferir um arquivo da rede para o seu PC.

BLOG - Antes, quem quisesse ter um site tinha de saber fazer um. O blog mudou isso e deu início à web 2.0.

BLOGGER – pioneiro, popularizou os blogs, ao permitir que qualquer um publicasse seu site.

WORDPRESS – é a ferramenta de publicação de blogs mais usada no mundo.

BROWSER Programa para navegar na web, como Internet Explorer, Firefox, Chrome e Safari.

C

CPU - Central Processing Unit: é o processador central do computador.

CACHE - Quando você usa muitas vezes um programa ou entra no mesmo site, o computador deixa gravado nesta memória partes das tarefas para executá-las mais rapidamente.

COPYRIGHT - Garante que uma obra só pode ser copiada com autorização expressa do autor.

COPYLEFT - É justo o oposto: o autor libera totalmente os direitos da obra.

CREATIVE COMMONS - Nome do conjunto de licença criado pelo advogado Lawrence Lessig, que permite que o autor de uma obra devida como funcionarão os direitos autorais sobre a mesma, tornando-os mais flexíveis.

D

DNS - Domain Name Server . Se o IP é o endereço do computador, o DNS é o nome: próprio do servidor.

DRM - Controle digital de direitos autorais: funciona como uma trava que impede a cópia de arquivos.

DIGG-  Rede social de compartilhamento de notícias e links que indexa quantas recomendações (diggs) cada item teve.

E
EMBEDAR-  Quando você vê um vídeo do You Tube em outro site que não o You Tube, ele foi embedado (ou incorporado).

EXTENSÃO - Também chamados plugins, são programinhas que fazem pequenas tarefas dentro de outros softwares, como navegadores de internet.

F

FACEBOOK - A maior rede social do mundo pode ser, nos próximos anos, tão importante quanto o Google foi nos anteriores. Seu criador, Mark Zuckerberg, é o novo Bill Gates.
FLASH - Linguagem de programação que serve para rodar vídeos e animações na internet.
Desde que a Apple decidiu que seus aparelhos não rodam mais Flash, surgiu a pergunta: qual vai ser a linguagem mais popular para veicular vídeos e animações?

Os concorrentes – Silverlight (Microsoft), Flash (Adobe), JavaFX (Java) e HTML5, evolução natural do HTML.
G

GPS - Sistema de posicionamento global. Localiza o usuário por meio de coordenadas geográficas.

GIF ANIMADO-  O princípio básico da animação (imagens em sequência) compactado em uma única imagem. Funciona quase como um minivídeo.

GOOGLE - Nosso querido Big Brother. Reinventou a web há dez anos, espalhou-se por todas as áreas do mundo digital e até virou verbo.

GEOTAG - É uma etiqueta digital que localiza onde uma foto foi tirada, por exemplo.

GEOLOCALIZAÇÃO - Identificação de posição geográfica do usuário através de GPS ou triangulação de sinal do celular.

H

HTML - A linguagem de programação que inaugurou a web ainda está presente na maioria dos sites.

HDMI-  É a porta de entrada e saída de som e imagem em alta qualidade, comum em aparelhos mais novos.

HD - Você grava os seus arquivos no HD, sigla para disco rígido em inglês.Alguns podem ser vídeos em HD, sigla em inglês para alta definição.

HUB - Aparelho que conecta vários equipamentos entre si.

HOAX-  É o bom e velho boato. Na web, eles ganham vida própria.

I

IPOD - É um tocador de música digital –  MP3 – lançado em 2002 pela Apple. Virou sinônimo de MP3 Player.

IPAD - O tablet da Apple, computador em forma de prancheta, é a vedete do momento.

IM - Programa de mensagem instantânea, ou bate-papo em tempo real (MSN, Gtalk e Skype).

J

JAVASCRIPT-  Linguagem que reúne pequenos aplicativos dentro de um programa ou site.

K

KINDLE - O e-reader da Amazon deu a largada na corrida pelo novo suporte para livros digitais.

L

LINGUAGEM DE PROGRAMAÇÃO-  É o conjunto de comandos e códigos que constroem programas e sites. Alguns exemplos: HTML, JavaScript, Flash, etc.

LOL - Sigla para Laughing Out Loud, ou rindo bem alto. Equivale a dar uma gargalhada.

LCD-  Sigla em inglês para tela de cristal líquido, usada em TVs e monitores finos.

LED - Sigla em inglês para diodo emissor de luz, também é como se batiza monitores ou TVs que usam tecnologia.
M

MOBILE - Termo em inglês para portátil.

MASHUP - É o que acontece quando dois programas – ou duas músicas – se misturam numa só.

METADATA-  É o dado do dado: informações atreladas a um arquivo, como nome do autor, data da criação, geolocalização.

MÍDIAS SOCIAIS-  Redes sociais passaram a ser utilizadas como mídias e por qualquer um.

MÍDIA COLABORATIVA - Dá para ser autor de uma obra com vários autores, sem ter contato com eles, ao mesmo tempo em que todos escrevem (e editam)? Claro que dá!

N

N00B - O termo, escrito com zero no lugar do “O”, vem de newbie: novato ou inexperiente.

NUVEM - Programas e dados podem ser guardados online, ou “na nuvem”. Como se diz.

O

OLD - Sabe quando mandam um vídeo ou link que você já viu? Se quiser tirar sarro, é só responder: OLD

OPEN ID-  Sistema de identificação que permite acesso vários serviços com apenas um login e senha

OPEN SOURCE - Programas de código-aberto, são gratuitos e podem ser alterados por qualquer um.

P
PEER-TO-PEER-  É o nome que se dá à troca de arquivos entre dois computadores, sem intermediários.

PENDRIVE - Pequeno e prático, ele matou os disquetes e os CDs graváveis.

PLASMA - É o terceiro tipo de tela para monitores planos e leva esse nome devido ao material que geram as imagens em movimento.

POSTAR - É  o verbo para designar quando qualquer coisa é publicada online (foto, vídoe, blog, tweets, etc,)

Q

QR CODE-  Espécie de código de barras feito para ser lido por câmeras de celular – geralmente faz o aparelho acessar um site específico.

R

RSS - Forma de acompanhar sites sem precisar entrar neles. As atualizações são reunidas no agregador, um leitor de RSS.

ROFL - Rolling on the floor laughling, ou rolando no chão de tanto rir: é um sjuper LOL.

REDE SOCIAL - Antes dela, se você quisesse achar alguém online, dependia da possibilidade de ele ter seu próprio site. Com as redes sociais, como o Orkut e o Facebook, todo mundo está online.

ROTEADOR - Aparelho que, ligado ao modem, redistribui a conexão de internet para outros computadores num mesmo ambiente.
S

STARTUP - Empresa recém-criada e ainda em busca de espaço no mercado da tecnologia, como o Foursquare.

SUBIR-  É quando você pega um arquivo do computador e o disponibiliza na internet. Também vale dizer upload.

SEO - Sigla para Search Engine Optimization: ações e truques que melhoram a posição de um site em um resultado de busca.

SCRIPT-  São comandos que executam funções específicas dentro de um site.

SISTEMA OPERACIONAL-  Software fundamental de qualquer computador, que faz que todas as placas e programas instalados funcionem. Exemplo clássico: Windows.

T

TAG - Ao pé da letra, é etiqueta. São termos que organizam o conteúdo na internet.

TUMBLR - É como se fosse um blog, mas com foco em republicar coisas legais que você viu online – é a mais fácil de usar.

TWITTER-  Um blog para posts curtos, uma rede social ou uma nova mídia? Os três!

U

URL - É o endereço do site, o que você escreve na barra co navegador.

USB-  É aquela entrada que tem a ponta retangular. USB é sigla para porta serial universal, em inglês.

V

VIRAL-  Quando um vídeo, link ou foto parece que se espalha sozinho na web, ele virou um viral.

VOIP - Programas que permitem usar a web como telefone.

W

WEB -      2.0 – é a web social, que todos produzem.          
                 3.0 – web semântica, nela, conteúdo de diferentes sites interagem entre si e com o usuário.

WIDGET-  Aplicativo instalado em outro programa para fazer funções específicas.

WIKI - Linguagem que permite a criação coletiva e colaborativa.

WTF - Para comentar coisas absurdas e incompreensíveis.

X

XXX - Classificação da indústria do cinema para filmes com cenas de nudez, foi adotada pela indústria pornô para deixar claro que há sexo explícito. Se o site tem três “X”, já sabe.

Y

YOU TUBE - O site do Google é o maior repositório de vídeos do mundo.

Z

.ZIP - Arquivo que contém outros arquivos, compactados para aproveitar melhor o espaço e facilitar as transferências.

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