terça-feira, 3 de abril de 2012

A TENDÊNCIA  DOS  NOMES
Na evolução flutuante dos batismos, saem marias e josés, entram jessicas e washingtons
Deonísio da Silva

O nome é uma das primeiras coisas que não escolhemos na vida. Estará inscrito nos registros: na maternidade, no cartório, na certidão de batismo, no RG, no CPF, no obituário, etc. Enfim, uma escolha que não fizemos nos acompanha do berço ao túmulo, pois na lápide se dirá que ali jaz Fulano de Tal.
Até o alvorecer da República Velha, só a Igreja sabia direito onde os brasileiros nasciam, viviam e morriam, que nomes tinham, de quem descendiam, etc. Pois era ela quem os batizava, casava e enterrava. Nos nomes, predominavam homenagens a santos do dia, daí a profusão de Josés, Joões, Marias, Anas, Madalenas. Mas, como em Portugal, personagens históricos, vultos políticos, cientistas, artistas, escritores e, recentemente, jogadores de futebol, cantores e atores inspiraram pais e avós.
No século 19, houve abundância de nomes como Ubirajara, Peri, Iracema e Moema, inspirados no tupi-guarani, para ratificar nossa separação de Portugal. Mas o costume de dar nomes portugueses aos filhos continuou por décadas. E Pedro, Isabel, Amélia, etc. eram homenagens que o povo continuava a prestar à aristocracia luso-brasileira.
Contudo, eles passaram a conviver com nomes franceses, que refletiam influências e dependências. Ainda que Dom João VI tenha enganado Napoleão, pois na última hora transferiu a capital do reino para o Brasil, os nomes denunciavam uma vitória que a França derrotada impusera à Inglaterra vencedora, que protegera a Família Real na travessia. Assim, não só nos cardápios, nas vestes, nos perfumes e penteados, também nos nomes os brasileiros rendiam homenagens francesas.
Tinha havido algo semelhante séculos antes em Portugal. Nomes do hebraico, como Rafael, Daniel e Miguel, para meninos, e Rute, Sara e Raquel, para as meninas, mostravam que os derrotados impuseram derrotas no campo dos nomes. Na segunda metade do século 20, a antropologia fez com que a sociedade vivesse um refluxo indígena e voltassem Mayra, Potiguara, Paraguaçu, etc., espécie de defesa a tantas Kelly e Jessica, nos batismos femininos, e Washington, Elton e Wellington. Os nomes de esportistas a artistas estão entre aqueles que a mídia mais divulga. E foram parar nos cartórios.
Mas não nos esqueçamos da criatividade nordestina, que, ao juntar as primeiras sílabas de um nome às últimas de outro, produz um terceiro, inédito nos cartórios.
(Língua Portuguesa março2012)

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