CONSTRUINDO O ESTILO NO GERÚNDIO
Há orações com ideia de duração que são estilisticamente melhores do que com outras formas verbais.
John Robert Schmitz
O gerúndio é uma das construções gramaticais que tem recebido críticas ao longo do desenvolvimento do português. A primeira crítica é o uso do gerúndio em orações como “Recebeu uma caixa contendo roupa” que reflete a sintaxe do francês. De acordo com o estilista M. Rodrigues Lapa no seu lúcido Estilística da Língua Portuguesa (Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1970: 163-4), alguns gramáticos condenaram o uso adjetival do gerúndio como em francês e, para se referirem ao “abuso”, cunharam o vocábulo como “endorreia” que lembra outras coisas bastante desagradáveis.
Rodrigues Lapa argumenta que a construção “Recebeu uma caixa contendo roupa” é estilisticamente melhor do que as orações: “Recebeu uma caixa que continha roupa” ou “Recebeu uma caixa com roupa dentro”. Com respeito ao referido gerúndio, o renomado especialista escreve nestes termos:
“Para que havemos pois de banir da língua este instrumento expressivo, sob a acusação de que não era usado pelos nossos tresavós e nos veio diretamente do francês?”.
Apesar das críticas, o gerúndio como modificador de substantivo continua em evidência no português contemporâneo, como atestam os exemplos: “Vende-se pé de jabuticaba produzindo”, “Motor amaciando” e o sempre presente aviso nas ruas “Homens trabalhando”. E não faltam exemplos em textos jornalísticos: “Também há estudos sugerindo que a introdução desses antidepressivos ajudou a reduzir suicídios de adultos” (“Mais critérios”, Editorial, Folha de S. Paulo, 9 de março de 2008, A.2).
Com preposição – O gerúndio que segue a preposição “em” recebeu crítica, em tempos passados, por ser considerado uma importação sintática do francês. Mas, hoje em dia, a construção em + gerúndio ocorre com bastante frequência: “Outro ramo competitivo em se tratando de recursos passados para fundações é o universitário” (“CPI com fartura”, Editorial, Folha de S. Paulo, 4 de março de 2008,A2); "Mas, não por motivo, já avisou que, em sendo candidato, não será o anti-Lula, mas o pós-Lula"(Valdo Cruz, "Pós-Lula", Folha de S. Paulo, 9 de março de 2008, A2); "...as misérias nacionais são relativamente pífias, problemas que a Justiça e a polícia, em querendo, podem enfrentar."(Carlos Heitor Cony, "Abençoado por Deus", Folha de S. Paulo, 11 de dezembro de 2007, A2).
Tais exemplos mostram que os dois usos do gerúndio, em primeiro lugar, como modificador de substantivo e, em segundo lugar, precedido da preposição "em" resistiram às críticas e hoje em dia somente os que trabalham com a história do português se lembram da polêmica que ocupou o tempo dos gramáticos e filólogos na primeira metade do século 20.
Há dois tipos de gerúndio em português: o perifrástico precedido dos verbos auxiliares: "Ele está (anda, vive, fica, vem, vai, continua) enrolando" e o não perifrástico (sem verbos auxiliares), que se subdivide em dois tipos: simples e composto, respectivamente. Vejam os exemplos retirados de obras de Machado de Assis:
"Dizendo estas palavras, estendeu-lhe a mão" (Machado de Assis, Obras Completas, Vol. II:184).
"Não tendo enviado o bilhete de Helena, meteu-o na algibeira..." (Machado de Assis, Obras Completas, Vol.I: 258).
Tipos - Não sei como o português ficaria sem o gerúndio tão magistralmente alinhavado por Euclides da Cunha num trecho que narra a heroica defesa dos jagunços durante a Guerra de Canudos. Na bela passagem euclidiana, os oito gerúndios usados captam a ação dinâmica, a "progressividade" e a movimentação estratégica dos defensores contra forças superiores:
"...ora dispersos, ora agrupados, ou desfilando em fileiras sucessivas, ou repartindo-se extremamente rarefeitos; e os rojões, rolantes pelos pendores, subindo, descendo, atacando, fugindo, baqueando trespassados de balas, muitos; malferidos, outros, em plena descida, e rolando até o meio das praças, que os acabavam a coice das armas." (Os Sertões, "A incompreensão da camapnha", São Paulo: Editora Nova Cultura, Ltda., 2002: 165).
Atualidade - Não faltam exemplos de gerúndios não perifrásticos no português escrito atual:
"Cabe aos ministros do STF reafirmar a laicidade do Estado brasileiro e, interpretando o direito em máxima positividade, manter a Lei da Biossegurança aprovada pelo Congresso" (Editorial, "A favor da ciência" Folha de S. Paulo, A2).
"Eu mesmo fiquei preocupado, pois militando no campo de saúde há 50 anos..." (Antônio Ermírio de Moraes, "Boa surpresa, por enquanto", Folha de S. Paulo, 2 de março de 2008, A2).
O gerúndio é central na sintaxe do português. Ele até se emprega no imperativo ("vai entrando", "vai-se sentando") e, quando as coisas na vida cotidiana não têm jeito, ouve-se frequentemente: "É só rindo", ou "Só vendo".
(Língua Portuguesa. Ano 5. nº 63. jan.2011)
Oi
ResponderExcluirPortugues na veia
ResponderExcluirAntônio
ResponderExcluirAfonso
ResponderExcluirÉ gabriel, mexendo no telefone
ResponderExcluirEu amo RC
ResponderExcluirGabriel nao leu
ResponderExcluirRC é meu amor
ResponderExcluirAcabo a aula
ResponderExcluiraiii q delicia cara
ResponderExcluirAmo as cocota
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