segunda-feira, 27 de abril de 2009

SINTAXE


QUÊ DA QUESTÃO

O escritor Coelho Neto deixou-nos esta pérola: “A mais bela coragem é a confiança que devemos ter na capacidade do nosso esforço”.
O pronome relativo “que” refere-se ao termo antecedente “confiança” e funciona como objeto direto (Devemos ter confiança...). Consoante a gramática normativa, os pronomes relativos referem-se a um antecedente (geralmente substantivo ou pronome).
Todo pronome relativo possui função sintática, fazendo parte, por conseguinte, de um estudo de morfossintaxe.
É conhecido o adágio “Nem tudo o que reluz é ouro”, no qual o pronome relativo “que” refere-se ao pronome demonstrativo o e funciona como sujeito (Aquilo que reluz). O antecedente do relativo “que” (considerado universal) pode ser pessoa ou coisa: “...um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu” (Machado de Assis, Dom Casmurro). No exemplo, o “que” funciona como objeto direto. )Eu conheço um rapaz).

1. O QUAL

Como puro pronome relativo, o “qual” só se usa precedido do artigo definido: “Tinha havido alguns minutos de silêncio, durante os quais refleti muito e acabei por uma ideia. (Machado de Assis, Dom Casmurro); Aqui, referindo-se à expressão “alguns minutos de silêncio”, o relativo “os quais” funciona como adjunto adverbial de tempo. Emprega-se também “o qual” (e flexões) para evitar o duplo sentido: “Visitei o filho da vizinha ‘o qual’ se queimou com fogos”. Tem função de sujeito. Se usarmos aí o relativo “que”, não saberemos ao certo quem se teria queimado, se o filho ou a vizinha. Com frequência, usa-se “o qual” com palavras (preposição, pronome) de duas ou mais sílabas: “A felicidade é sentimento para a qual todos apelam, quando já não há possibilidade de alcançá-la”, em que o relativo funciona como objeto indireto. (Todos apelam a um sentimento).

2. ONDE

“Minha terra tem palmeiras
Onde sopra o vento forte
Da fome, do medo e muito
Principalmente da morte.”
Nesse excerto de Tropicália 2, composição musical de Torquato Neto e Gilberto Gil, evidencia-se a intertextualidade coma Canção do Exílio, de Gonçalves Dias. O pronome relativo “onde” aparece normalmente com antecedente locativo. Aqui, “onde” refere-se aos antecedentes “minha terra”/”palmeiras”, com função de adjunto adverbial de lugar.

3. COMO

“Não há coisa que demonstre de maneira mais decisiva o caráter de um homem do que a maneira como trata as mulheres.” (Herder). O pronome relativo “como” tem sempre as palavras “modo”, ‘maneira” ou “forma” como antecedente e equivale a “pelo qual” (ou flexões). No pensamento de Herder, funciona como adjunto adverbial de modo. O primeiro “que” refere-se ao substantivo antecedente “coisa” e funciona como sujeito; o autor formou um símile com “do que” – expressando relação de comparação, porém sem função sintática.

4. QUEM

No português contemporâneo, o pronome “quem” só se refere a pessoas e sempre aparece regido de preposição: “Aquele é o presidente a quem mais admiro.”
Como o verbo “admirar” é transitivo direto, o relativo “a quem” funciona como objeto direto preposicionado.

5. CUJO

“Cujo” é um relativo que sempre correlaciona algo possuído (consequente) a um possuidor (antecedente). Emprega-se apenas como pronome adjetivo e concorda com o consequente em gênero e número: “Xadrez é um jogo cujas regras nunca compreendi”, em que o pronome “cujas” funciona como adjunto adnominal.
Vem precedido de preposição sempre que a regência do verbo ou nome o exigir: “Aquilo é o qjue sobrou do prédio de cuja implosão não me lembro”. (Eu não me lembro da implosão do prédio.)
Neste caso, o verbo lembrar-se rege preposição “de”, e o relativo “cuja” exerce a função de complemento nominal.
Fiquemos com a beleza dos versos de Antonio Nobre:

“Convento d’águas do Mar,
ó verde Convento
Cuja Abadessa secular é a Lua
E cujo Padre-capelão é o Vento...


O “que” de Camões
Nos versos da estrofe 118, Canto III, de Os Lusíadas, Camões usou duas vezes o pronome relativo “que”:

“O caso triste e digno da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que depois de ser morta foi Rainha”.

Muitos não entenderão o conteúdo caso não percebam, na inversão, que o 1º pronome refere-se a “caso”, funcionando como sujeito da oração subordinada adjetiva. No 2º caso, o pronome refere-se ao antecedente implícito “Inês de Castro”, funcionando como sujeito da oração subordinada adjetiva.
LUIZ ROBERTO WAGNER – Doutor em Letras pela UNESP de Araraquara e Professor Universitário.
(Revista – Língua Portuguesa. Ano 3. Nº 42. abr.2009. p.42
)








domingo, 26 de abril de 2009

COMPLEMENTO OU ADJUNTO?
Uma das maiores dificuldades dos estudantes de sintaxe é a distinção entre ADJUNTO ADNOMINAL e COMPLEMENTO NOMINAL.
Em princípio, o adjunto adnominal, formado pela preposição de + nome, vem sempre depois de um substantivo e indica posse (livro de Pedro), matéria (cadeira de aço) ou qualidade (menino de ouro). O complemento nominal não oferece problema quando vem depois de adjetivo ( fiel à lei) ou de advérbio (independentemente da vontade).
O problema é quando um dos termos, o complemento nominal ou o adjunto, vem depois de substantivo. Se este é abstrato, tem a força transitiva, e aí teremos um complemento nominal: a invasão de terras (ato de invadir), criação de galinhas (ato de criar). Se o nome for concreto, teremos adjunto adnominal: “A plantação de trigo foi destruída pelo incêndio”(plantação de trigo = trigal). Mas em “A plantação de trigo cria divisas para o país”, a plantação é o ato de cultivar trigo, e “ de trigo” é complemento nominal.
SUBSTITUIÇÃO
A ideia é simples: se o nome fosse verbo, o adjunto adnominal seria sujeito (mas indicando posse, matéria ou qualidade), e o complemento nominal seria o objeto. Assim, se digo “A invenção de Santos Dumont diminuiu as distâncias”, não estou dizendo que Santos Dumont foi inventado, mas que ele inventou (sujeito); a invenção pertence a ele (posse). Mas, se digo “A invenção de palavras caracteriza o estilo de Dias Gomes”, estou dizendo que inventar palavras caracteriza o estilo de Dias Gomes (invenção é nome com força transitiva;não há ideia de posse: as palavras não possuem invenção, nem invenção possui palavras).
Como o adjunto adnominal exerce função adjetiva, às vezes é conveniente tentar substituir a expressão suspeita por adjetivo; se não, teremos um complemento. Assim, em “risco de morte”, “de morte” equivale ao adjetivo “mortal”. Temos aí um adjunto adnominal. Mas, em “risco de vida”, não posso dizer risco “vital”; temos aí um complemento nominal.
“Risco de vida” equivale a arriscar a vida. “Risco” é aí um nome com força transitiva.
Uma expressão pode ser adjunto ou complemento, a depender do contexto. Em “O amor de Deus pelos homens é grande", “de Deus” é adjunto adnominal (Deus é que ama, o amor é Dele, posse).Mas, em “O amor de Deus torna os homens piedoso), “de Deus” é complemento nominal. (Deus é objeto do amor; os homens é que têm o amor, não Deus). Em francês, há uma diferença sutil entre
caísse d’eu (caixa-d’água, em uso, com água dentro) e caísse à eau (caixa de água, vazia). Em “caixa de vidro”, se o vidro indica a matéria de que a caixa é feita (caixa vítrea), temos um adjunto adnominal; mas se indica o conteúdo da caixa, então “de vidro” é complemento nominal. Da mesma forma, em “Comprei duas xícaras de café”, a expressão “de café” classifica as xícaras, determinando-as: adjunto adnominal. Mas, em “Bebi duas xícaras de café”, “de café indica conteúdo: complemento nominal.
Uma expressão como “pai de família” não pode ser substituída por “pai familiar”. Temos aí complemento nominal. Confere-se “pai de família” com "chefe de família" (em que “chefe” tem força transitiva: chefiar a família): “de família” é complemento nominal.
RESUMO
Em síntese: se indicar posse, matéria ou qualidade (ou agente), o termo é adjunto adnominal. Se completar o sentido transitivo do nome, o termo é complemento nominal. Atente-se para o fato de que o pronome relativo “cujo” é sempre adjunto adnominal e nunca complemento nominal. Numa frase como “O prefeito fez um discurso na ponte para cuja inauguração até o presidente foi convidado”, o pronome “cuja” é usado inadequadamente como complemento nominal de “inauguração”. De preferência: “O prefeito fez um discurso na ponte para a inauguração da qual até o presidente foi convidado”. “Cujo” é usado sempre com ideia de posse, real ou virtual. No exemplo, nem a ponte pertence à inauguração, nem a inauguração pertence à ponte. Mas o melhor uso de “cujo” é: “O rapaz com cujo irmão falei é estudioso”; “O lenço em uma de cujas pontas estavam bordadas as tuas iniciais era azul” e “Ruiu a ponte cujos arcos eram altos”.
JOSÉ AUGUSTO CARVALHO – mestre em Linguística pela UNICAMP e doutor em Letras pela USP
Revista Língua Portuguesa. Ano 3. Nº42.abr.2009.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

É POSSÍVEL MANTER A COMPOSTURA?

Algumas posturas internas ajudam a manter situações tensas sob controle e evitar desgastes desnecessários de energia.

  • Em meio ao caos, pare e pense: esse episódio tem mesmo toda essa importância?
  • Considere que mesmo o cliente ou colega mais teimoso raramente tem uma questão pessoal com você.
  • Fale consigo mesmo e tranquilize-se, dizendo: "Fique calmo...!"
  • Utilize técnicas de relaxamento para normalizar a sua respiração.
  • Tome situações difícieis como desafios, e não como problemas.
  • Conceda-se uma pausa depois de uma conversa desagradável!
  • Evite expor-se demais; mostre sentimentos em ambientes protegidos, com pessoas de confiança.
  • Ria de si mesmo; o bom humor ajuda a dissipar tensões.
  • Lembre-se, ninguém é excelente o tempo todo; aceite erros, os seus e os dos outros.

(Mente & Cérebro. Ano XVI. nº 195. abr.2009)

Para evitar distúrbios de linguagem

Cientistas norte-americanos chegaram à conclusão de que entender como o cérebro infantil distingue os sons pode ser de grande auxílio no diagnóstico e correção de distúrbios relacionados à linguagem. Segundo a neurocientista April Benasich, do Laboratório de Estudos da Infância da Universidade Rutgers, nos EUA, a capacidade de distinguir sons é fundamental no processo de decodificação da informação. Nos primeiros meses de vida, o cérebro trabalha para criar um mapa acústico do idioma nativo, porém, o processo pode variar de criança para criança.
Estudos apontam que entre 5% a 10% das crianças em idade escolar possuem algum déficit da linguagem, o que pode acarretar problemas ligados à leitura e também à fala.
(Revista Língua Portuguesa. Ano 3, nº42. abr.2009)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Funcionamento dos circuitos afetivos


O Sistema Nervoso Central desperta, regula e integra respostas emocionais. O Córtex Cerebral está envolvido na identificação, avaliação e tomada de decisões com base em dados sensoriais. Os pensamentos, expectativas e percepções desempenham papéis importantes para manter e dissolver afetos. A Formação Reticular, uma rede de células neurais alerta o córtex para informações sensoriais. Os dados a respeito de eventos despertadores de emoção são filtradospor esse sistema. A Formação Reticular desperta a atenção do córtex.

O Sistema Límbico, um grupo de cirucuitos inter-relacionados desempenha papel regulatório nas emoções e motivações. Embora as funções precisas de cada estrutura ainda não sejam clara, é certo que a informação sensorial passa pelo Sitema Límbico em sua trejetória para o córtex. Esse emite mensagens para outras áreas cerebrais. O Hipotálamo, uma estrutura límbica responsável pela ativação do Sistema Nervoso Simpático durante emergências está envolvido em situações de medo, raiva, fome, sede e atração sexual.

(Revisa Mente e Cérebro, Ano XVI, n°195, p.45)


quinta-feira, 2 de abril de 2009

Reflexão

Para que haja grandes poetas é preciso que haja também um grande público.
Walt Whitman
(1819-1892, poeta norte-americano)

Animus furandi

Latim equivocado marca piada da internet sobre liguagem jurídica viciada, o juridiquês
"Num tribunal em Araçatuba(SP), era julgado um caso de tentativa de homicídio. O réu teria esfaqueado um antigo desafeto num bar, após breve discussão.
Apesar da gravidade das lesões, a vítima sobreviveu por motivos alheios à vontade do acusado.
A certa altura, o advogado de defesa se dirige ao conselho de sentença, afirmando pomposamente:
___ O réu não agiu com animus furandi!
O promotor balança a cabeça e olha para o juiz, que também não esconde seu estranhamento. Afinal, animus furandi significa 'intenção de furtar', e não havia qualquer acusação de furto. Mas ambos resolveram fingir que nada havia de errado. Para não confundir ainda mais a cabeça dos jurados, o promotor entrou na 'brincadeira':
___Apesar da afirmação do combativo defensor, o réu agiu sim com animus furandi. O laudo de exame de corpo de delito se revela conclusivo ao afirmar que a vítima foi furada três vezes pelo réu..."
(Adaptado de texto de Tulio Mayrink Ximenes, publicado no Neófito, pelo advogado Paulo Gustavo Sampaio Andrade, no site Jus Navegandi, Página Legal: http://www.paginalegal.com/marcador/juridiques/)
(Revista Língua Portuguesa, Ano 3.n°42.abr.2009p.64)

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Uma pessoa comum...